domingo, 11 de novembro de 2012

O VERDADEIRO LÍDER JA


Qual a característica principal do verdadeiro líder JA? Montanhas de livros sobre liderança nos últimos anos – tanto seculares quanto “evangélicos” – oferecem muitas sugestões: o líder eficaz administra bem; tem personalidade e convicções fatores; é dinâmico, eloqüente, automotivado e comprometido; aproveita bem o seu tempo; serve seus liderados; prevê e supera obstáculos; sabe ouvir... E agir; e talvez acima de tudo, ele é seguido.

Fico exausto só de pensar nesta lista. Só falta acrescentar que o líder é mais rápido que uma bala veloz e capaz de pula sobre prédios altos com um único salto. Certamente muitas destas características são desejáveis no líder – algumas, indispensáveis, mas será que o líder cristão tem de ser um verdadeiro “super-homem?” Será que, como Marta nos tempos bíblicos, temos nos “preocupado com muitas coisas”, quando “somente uma coisa é necessária” (Lc. 10:41, 42)?  Será que nos esquecemos da característica fundamental do líder cristão, aquele que alicerça todas as outras? Creio que a resposta seja “Sim!”.

Gostaria de sugerir que a marca do verdadeiro líder cristão, que o torna digno de ser seguido, é o fato de que ele anda com Deus.

Sr. Walter não era homem eloqüente. Também não era brilhante. Se não me engano, sua educação formal não passou da terceira série. Embora tivesse sido atleta de destaque na sua juventude, uma doença o deixara com uma perna 5 cm mais curta que a outra. Humanamente falando, ele não possuía quase nenhuma das características de um “Líder” nato. Por que, então, nossa classe de juvenis o seguia como se ele fosse Michael Jordan da época? De que maneira ele foi capaz de deixar uma marca tão profunda em minha vida que hoje, trinta anos depois, considero-o meu primeiro “mentor espiritual”?  A resposta é simples: Tio Walter andava com Deus. Sua humildade e paciência, seu espírito de servo, sua alegria contagiosa, eram frutos de momentos preciosos que ele investia na presença de Deus.

O que significa andar com Deus

O Velho Testamento destaca três indivíduos que “andavam com Deus”: Enoque, Noé e Abraão. O termo “andar” usado para os três aparece numa forma especial no hebraico, língua original daquela parte das nossas Bíblias. Significa que estes homens andam “para cá e para lá” com Deus. Em outras palavras, vivam na presença de Deus. O líder que quer deixar um impacto para eternidade na vida daqueles que vivem ao seu redor “pratica a presença de Deus”. Este líder não arquiva sua fé numa gaveta chamada “Sábado”. Deus não fica numa prateleira no canto do porão de sua vida, sempre perto (caso aconteça uma “emergência”), mas pouco presente, certamente não relevante para seu dia-a-dia. Andar com Deus significa viver ciente de Sua presença em toda a vida. Implica uma comunhão e dependência constante em Deus, uma desconfiança do “eu” e uma profunda confiança nEle (Pv. 3:5,6). Este líder está tão ciente da sua própria incapacidade que vive a realidade das palavras de Jesus: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jô 15:5).


Por coincidência, foi um outro “Valter” que conheci muito bem que também influenciou minha vida profundamente. Foi meu avô. Baixinho e gordinho, também não era um homem muito impressionante. Nunca terminou a oitava série. Trabalhou 50 anos na mesma fábrica martelando e moldando cobre. Mas era um homem de Deus. Acordava toda manhã às 4:00 horas para gastar no mínimo uma hora com o Senhor antes de ir para o serviço. Orava diariamente por todos os seus netos para que chegassem a conhecer a Jesus. Uma vez chegou a ser preso por pregar Jesus ao ar livre. Nos anos de aposentadoria dele, eu o acompanhava quando coletava jornais velhos para vender. Vovô dava todo o dinheiro conseguido para missões. Nunca vou me esquecer do dia num shopping center, em que eu, sentado em seu colo, escutava de boca aberta enquanto ele contava a história inteira do livro de Jô. Como ele conhecia as Escrituras! Como ele conhecia a Deus!

Quais são suas motivações para orar e ler a Bíblia?

Como, então, andaremos com Deus? Muitos dariam à resposta que geralmente serve para qualquer pergunta feita na classe infantil da Escola Sabatina: “Lendo a Bíblia e orando”. Mas esta resposta pode ser simplista demais. Podemos transformar estas “disciplinas da vida cristã” em obras da carne. Não são “fórmulas mágicas” para fabricar uma vida verdadeiramente cristã, ou uma lâmpada mágica, onde habita nosso “Gênio-Deus” e que podemos “esfregar” para satisfazer nosso desejo de ser líderes bem-sucedidos. Como um pastor amigo certa vez afirmou: “Não precisamos de mais oração – precisamos mais de Deus!”

A pergunta para o líder cristão, não deve ser se ele orar ou não, mas por que ele ora. Não deve ser por que ele se vê tão carente, tão necessitado de Deus que não consegue não orar. Ele sente tanta fome de uma Palavra do Senhor para alimentar sua própria vida e a vida do seu pequeno rebanho que não consegue não ler a Bíblia. Ele se vê como uma criança recém-nascida que chora desesperadamente pelo leite genuíno da Palavra de Deus (Pe. 2:2). Leitura bíblica e oração não são questões de colocar um “X” na nossa agenda espiritual, como se Deus ficasse impressionado com nossa dedicação e disciplina. Bebês não gritam pelo leite materno para cumprir um dever na sua lista de afazeres, mas por uma questão de sobrevivência. Assim o líder cristão anda com Deus não para fabricar espiritualidade, mas por que não consegue viver sem Deus e Sua graça. Deus está em todos os seus pensamentos.

Reconhecendo nossa dependência em Deus

Em termos práticos o que faremos? Primeiro, pedir que Deus nos mostre a nossa carência, revelando-nos o verdadeiro estado do nosso coração. Mas tomemos cuidado, pois esta oração poder ser perigosa para nossa auto-imagem inflada! Somente quando abrigamos a cortina do nosso coração para revelar o egoísmo, a sujeira, a ambição, a inveja, e o orgulho, quando nos vemos como homens e mulheres necessitados, carentes da graça e da misericórdia de Deus é que vamos ter fome e sede dEle.

Em segundo lugar, firmemo-nos na graça de Deus que nos amou mesmo sabendo tudo isso sobre nós. Uma vez que reconhecemos quem somos sem Cristo é que podemos valorizar o que somo em Cristo – aceitos, amados, filhos adotados na família de Deus.

Finalmente, precisamos cultivar o hábito de desconfiar de nós mesmos e depender completamente de Jesus, vivendo na presença dEle  o dia todo, em comunhão e conversa constante com Ele sobre tudo que passa em nossas vidas. Esta, de fato, é a essência da vida cristã e da liderança cristã: aprender um pouco mais a cada dia que passa, “não eu, mas Cristo”. “Estou crucificado com Cristo, logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. E este viver que agora tenho vivo pela fé no filho de Deus, que me amou, e a si mesmo se entregou por mim” (Gl. 2:20). Em outras palavras, a vida cristã não é difícil para mim – é impossível. Somente Cristo é capaz de viver a vida cristã. E Ele quer faze-lo – através de mim. Somente a vida dEle vivida através de mim fará um impacto para eternidade na vida daqueles ao meu redor. O líder cristão pode ser um “Clark Kent” com todas as habilidades de um “super-homem”, mas se ele não anda com Jesus Cristo, não adianta nada.

Infelizmente, meu nome não é “Valter”. Talvez por isso tenha tanta dificuldade em praticar a presença de Deus... Mas Deus tem muita paciência comigo, ensinando-me a cada dia pelo próprio fracasso que não é “por força, nem poder, mas pelo Seu Espírito” que a obra dEle se realiza (Zc. 4:6). Sei que, pela Sua graça, um dia chegarei lá, pois “aquele que começou boa obra em mim, há de completa-lá até o dia de Cristo Jesus” (Fp. 1:6). Mas até então, vou deixar de lado alguns daqueles livros sobre “Liderança Cristã” e focalizar um pouco mais no “Cristo” do líder. E se isso não funcionar, ainda posso mudar meu nome para “Walter”!

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